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Poesias Recitadas

Tudo será como antes

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 Adaury Farias

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Tudo será como antes

Saudade se parece com dengo de criança Quando machuca o dedo. Só passa com chamego, beijo e abraço. Quando distante o peito aperta, Quando perto o coração sossega. Como ainda não dá pra estar por perto, Fico relembrando nosso último abraço apertado Para diminuir a saudade nesse momento nefasto. Esse afastamento não vai demorar. Logo, logo vai passar. Logo passa... Aí, pro nosso contentamento, nada de “novo normal”! Certamente tudo vai ser igual como era antes. E estaremos, de novo, lado a lado. Presentes. Olho no olho. Com aperto de mão, beijo, dengo, chamego e abraço, Sorrindo e relembrando que tudo passa, tudo passa! E, vitoriosos, vamos estancar a dor da saudade Vivendo intensamente cada pequeno instante. Reconquistando nosso espaço Pra tudo ser e voltar como era antes.

A raça

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 Adaury Farias

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A raça

Ao lado do vaso com rosa do deserto Vi um gato com cara de sapo. Um pouco mais à sua frente, Outro com cara de cachorro-quente. Talvez, um estivesse com fome e, O outro, quem sabe? O prato da vez. O primeiro, incrivelmente, coaxava. O segundo, parecia que latia. Num pulo subiram no muro, Que estava revestido com unha-de-gato, E, em cima do telhado da garagem, Tête-à-tête, foram às vias de fato! Em estridente e bizarro cenário, Como duas lagartixas, se entrelaçaram. Era fogo ardente, sem chama, sem fumaça... Parecia rixa entre dois kamikazes! Quando dei fé, já tinham feito as pazes. E, juntinhos, cochilavam no tapete da sala. Cada qual com seu modo de garantir a raça.

Joaquina

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 Adaury Farias

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Joaquina

Ontem quando fui sair, pela manhã,  A moto não funcionou, então levei pra oficina, O mecânico logo falou: colocaram sal na gasolina. Humm... isso foi coisa da Joaquina Pra me deixa longe de casa, fazer a limpa E fugir com o Bianor. E agora o que é que eu faço? Tô no mato sem cachorro. Sem ela não consigo dar um passo. Como vou pedir socorro Pra sair desse sufoco? Perdi a conta de quantas a danada já me fez. Dessa vez foi pior, levou tudo que eu tinha. Levou o espelho, o gás de cozinha, A renda da venda das sacolinhas, Minha calça jeans, meu celular... Tenho certeza que foi pra dar praquele safado. Até o pó de café e o açúcar mascavo A messalina levou! Levou tudo e me deixou liso outra vez. Liso, liso sem nenhum puto centavo! Tomaz, que deixou a batina E hoje é “ex’ da Joaquina E também já viveu essa amargura, Quando me viu meio descaído, Tomou um gole de cachaça, rio da minha desgraça, E com toda experiência de vida, me disse:  “Bambino, deixa de frescura, Não chore, não foi a primeira vez. Também já passei por essa fissura! Espere que a grana dela vai acabar. Não sofra por essa meretriz. Ela vai voltar cheia paixão e ternura! E quando esse dia chegar, Deixe o povo todo falar Não faça como eu fiz, Perdoe a cretina, sorria de novo. E com Joaquina, volte a ser feliz!”

Umbilical

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 Adaury Farias

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Umbilical

Dedicado à minha mãe Deusolina Salles Farias

Lá se vão tantos anos e lembranças do tempo de eu criança, ainda me enchem de alegria. Na mesa da sala, aquela mão macia, apoiando a minha que, sem coordenação motora, cobria de qualquer jeito as letras pontilhadas do caderno de caligrafia. Ainda ouço aquela voz suave me fazendo repetir, uma a uma, as cinco palavrinhas mágicas, tão simples e perfeitamente adequadas, que desde lá repito de maneira automática. Como esqueceria aquele sorriso largo e o olhar reluzente de imenso entusiasmo, que se abriu, ao me ouvir, pela primeira vez, soletrar sozinho, o nome completo de uma loja da rua? Mas também não esqueço o singelo olhar a me corrigir quando deslizava entre as frases. Um dia, inda menino, quando dei fé, me fiz de adulto e parei de chorar ao perceber que a dor maior era nela e não no machucado do meu pé. E a partir de então vi que nunca estive sozinho na alegria ou na dor. Parecia que o cordão umbilical ainda estava ali, pois tudo nela se refletia. O tempo dispara e nos separa pelo tom das frontes: uma castanha, outra encanecida. No percurso da vida, paixões e amores se instalam e aos poucos desabam como terras caídas. Nesse tempo turvo, egoísta que sou, o que me marca é não tê-la aqui pra aliviar a minha dor. Só o amor dela tinha o poder de nunca acabar, um amor eterno, fiel e incondicional.

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